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domingo, 30 de março de 2014

[Prosa] Sentir

A chuva estava forte, desde a manhã daquela sexta-feira de outubro. A chuva percorria seu caminho pela janela, a tempestade tornava-se cada vez mais violenta e os ruídos violentos de árvores enfrentando o vento forte, tornavam-se cada vez mais altos.

Fechei os olhos a meia-noite. Mas minha mente continuou trabalhando. O que de fato eu ainda estava fazendo ali? O que me segurava naquele mundo ainda? Sentia-me solta, como se a qualquer momento eu pudesse sair voando, sem destino e apenas com a intenção de escapar de algo que eu não sabia o que era. Talvez de'u mesma. De quem o mundo poderia me transformar.

Dormi.

Acordei segurando forte a coisa mais próxima. Minhas unhas marcaram os lençóis brancos recém-lavados e ainda com o cheiro tradicional de OMO. Minha respiração ofegante bloqueava meus pensamentos e eu estava em alerta, esperando com que algo me atacasse. Com o que eu havia sonhado? O que poderia me atacar?

Levantei-me e fui até o espelho. A resposta estava lá.

Eu mesma.

Caminhei até o quintal e sai para a rua. Senti meus pés no chão e ainda estava de pijama. O chão estava molhado. Fechei os olhos e senti a brisa leve em meu rosto. Senti meus braços. Senti minha respiração. Senti o movimento das minhas pernas. Procurei sentir tudo o que eu poderia sentir. Tudo aquilo que eu ignorava no meu dia-a-dia, coisas simples com valores grandiosos.

Parei perto de uma árvore. Peguei algumas folhas com o tom alaranjado. Cada uma em seu lugar, em sua exata posição, cada uma contribuindo de alguma forma formava um coração.

As vezes sentia-me feliz. Outras triste. Algumas vezes sentia ódio. Outras emoção.

As vezes eu proporcionava as pessoas, alegria. Outras tristeza. Algumas sentiam ódio. Outras ficavam emocionadas.

Mas eu nunca amei ninguém. Nunca fui amada.

Eu preciso de cada membro do meu corpo. Aquele coração precisou de cada folhinha. E faltava algo em meu ser. Faltava alguém despertar esse amor dorminhoco. Faltava eu sentir.

Sentir. Sorrir.
Amar. Sentir.


Prosa de minha autoria.
Plágio é crime.

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